SOBRE OS AUTORES
A seguir apresentamos algumas informações e curiosidades sobre os autores das músicas e textos que compõem o repertório do espetáculo "Cantos de São Paulo".
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Foto: João Simão
Passoca (Marco Antônio Vilalba) | Santos, 1949
Autor de Sonora Garoa
Cantor, compositor e violeiro. Aprendeu a tocar bateria e violão quando era estudante de Arquitetura, em São José dos Campos. No final da década de 1970, influenciado por Renato Teixeira e Almir Sater, trocou esses instrumentos pela viola. Participou do grupo Flying Banana e lançou o primeiro disco, um compacto solo, em 1978, com parcerias de membros da banda. Nos anos 1980, apadrinhado por Arrigo Barnabé, lançou Sonora Garoa (1984). É autor da trilha do filme Marvada Carne e de músicas para novelas. Participou dos projetos Violeiros do Brasil (1998) e Inéditos de Adoniran (2000). Pioneiro da vertente neocaipira que renova o setor, o paulista de Santos é um dos únicos violeiros de origem urbana. Sua música contém a dualidade cidade/campo, a poética urbana sobre o suporte harmônico da viola caipira.
Billy Blanco (William Blanco Abrunhosa Trindade) | Belém, 1924 – Rio de Janeiro, 2011
Vinheta: trecho de Amanhecendo
Não deve haver paulistano que não conheça essa canção – ou pelo menos o refrão. O tema “Amanhecendo” integra a Sinfonia Paulistana, composição de 1974 do paraense Billy Blanco, que chegou à cidade nos anos 1940. Estudou Arquitetura no Mackenzie, mas logo se envolveu com música. Mudou posteriormente para o Rio de Janeiro e começou a conviver com figuras como Radamés Gnattali e Tom Jobim. A Sinfonia Paulistana contém 15 músicas e levou 10 anos para ser composta. Um dos trechos mais famosos de “Amanhecendo” diz: “a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição”. Vinheta do Jornal da Manhã da rádio Jovem Pan desde de 1974, a canção já se misturou ao dia a dia da metrópole.
Mário de Andrade (Mário Raul Morais de Andrade) | São Paulo, 1893 – 1945
Autor de Paulicéia Desvairada e Ode ao Burguês
Poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista e ensaísta brasileiro. Exerceu grande influência na literatura moderna, como ensaísta e estudioso. Foi um pioneiro do campo da etnomusicologia e sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil. Embora atualmente seja mais lembrado como poeta e romancista, foi professor do Conservatório Dramático Musical de São Paulo e esteve pessoalmente envolvido em praticamente todos os campos culturais relacionados ao modernismo, tendo sido um dos protagonistas da Semana de Arte Moderna de 1922. Fazia parte de seu ideal de cultura a preservação da memória, a fim de cultivar valores nacionais e afirmar nossa tradição. Nos anos 30, dirigiu o Departamento de Cultura de São Paulo, que mais tarde se tornaria a Secretaria Municipal da Cultura. Nasceu deste departamento a ideia de uma biblioteca que servisse como depositária de toda a história cultural da cidade e do Brasil. A transferência do prédio da Biblioteca Municipal do singelo prédio da Rua Sete de Abril para o marco arquitetônico na Praça Dom José Gaspar representou a concretização do plano de Mário de disponibilizar as conquistas do Modernismo e fazer da arte e da cultura um bem comum. Não à toa a Biblioteca recebeu seu nome em 1960. O nome daquele que amou e cantou sua cidade com o mesmo ímpeto com que defendeu sua história. O acervo de sua pesquisa etnomusicológica está no Centro Cultural São Paulo.
Waldir da Fonseca (Waldir Wanderlei da Fonseca) | São Paulo, 1947 – 2016
Autor de Conformópolis
Cantor, compositor e violonista. Filho de músico diletante, aprendeu violão e compôs as primeiras músicas na adolescência, tendo como influências a Bossa Nova, The Beatles e Chico Buarque. Aos 19 anos, tocava guitarra base num conjunto de rock, que se apresentava semanalmente em bailes da comunidade negra, e também em alguns bares no centro da cidade. No início dos anos 70, passou a se apresentar como cantor, quando se classificou no IV Festival Universitário de Música Popular Brasileira na TV Tupi, com a canção “Pra Inglês Ver”. Na mesma época, integrava a ala dos compositores da Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco e foi um dos fundadores da Tom Maior. Em 1973 gravou os primeiros compactos simples, “É sexta-feira”, “Pra que chorar”, “Foi Opinião” pelo selo Sinter (Phillips). No mesmo ano, fez uma viagem para o Nordeste, tomando contato com vários compositores e manifestações folclóricas locais. Em 1975, o cantor pernambucano Di Melo gravou sua composição “Conformópolis”. Trabalhou por um ano com o Grupo Raízes, lançando sua carreira solo em 1976. Nos anos 80, fez temporada de seis meses no Canadá. Apresentou-se também ao lado de Eduardo Gudin, Zé Ketty e Elton Medeiros. Em 1991, vítima de um AVC, teve sua coordenação motora comprometida, o que o levou a aprender a tocar teclado de maneira autodidata e usando apenas uma mão. Lançou em 1995 o CD Doce Canto de Waldir da Fonseca, com 14 músicas de sua autoria. Produzido por Filó Machado, o álbum contou com a participação de Aldyr Blanc, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Tetê Espíndola, Trovadores Urbanos, Walter Franco, entre outros. Além de músico, foi professor de Inglês.
Paulo Vanzolini (Paulo Emílio Vanzolini) | São Paulo, 1924 – 2013
Autor de Praça Clóvis
Zoólogo e compositor. Em 1942, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Junto com um grupo de estudantes passou a frequentar as rodas boêmias e a compor seus primeiros sambas. Em 1944, deixou a casa dos pais e começou a trabalhar com um primo, Henrique Lobo, na Rádio América, no programa Consultório Sentimental, de Cacilda Becker. Formou-se em 1947 e casou-se em 1948. No ano seguinte foi para os Estados Unidos, onde obteve o título de doutor em Zoologia pela Universidade Harvard. Em 1951, por insistência do amigo Geraldo Vidigal, publicou pelo Clube de Poesia o livro Lira de Paulo Vanzolini. Em 1953, foi convidado por Raul Duarte para trabalhar na TV Record, produzindo os programas de Araci de Almeida. No mesmo ano, a cantora Inezita Barroso fez a primeira gravação do samba "Ronda". Em 1959, o violonista José Henrique, dono da boate Zelão, mostrou o samba "Volta por Cima" ao cantor Noite Ilustrada, que o lançou em 1963, pela Philips, com estrondoso sucesso. Nesse mesmo ano, Vanzolini foi nomeado diretor do Museu de Zoologia, cargo que exerceu durante três décadas. Mesmo depois de se aposentar em 1993, continuou trabalhando na instituição. Foi um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ativo colaborador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo que, com seu trabalho, aumentou a coleção de répteis de cerca de 1,2 mil para 230 mil exemplares. Em 2001 lançou o seu último álbum, Acerto de Contas, junto com o box de mesmo nome de sua discografia (4 discos), resgatados pelo selo Biscoito Fino, com a participação de diversos intérpretes. Para o encarte, um texto de Antonio Candido foi escolhido para retratar, em palavras, a estatura única de Vanzolini. "Mestre de muitas faces, que sabe modular a expressão desde a caudal da conversa até a elipse das composições carregadas de expressão contida".
Álvaro Cueva (Álvaro Cueva de Moraes) | São Paulo, 1964
Autor de BuruRock
Compositor, cantor, ator, dramaturgo e diretor teatral. Formado em Artes Cênicas e Direito pela USP, tem na teatralidade de suas canções uma das características mais marcantes de seu trabalho. Em 1989 lançou, junto com a Banda Rés o LP "Rés Derelictae", com várias de suas composições. É sócio do Clube Caiubí de Compositores e lançou em 2005 seu primeiro álbum independente, "Canabi Emotiva", com participação de Alexandre Cueva, Zé Rodrix, Toninho Ferragutti, Proveta e Marcelo Pretto. Tempos de Canção (2016) é seu segundo álbum com canções inéditas. É membro ilustre do coral cênico da Unifesp, grupo que montou peças musicais de sua autoria como: "Kátia e Paulo – Uma Alegoria Paulistana" (2009) e "Ópera Chica" (2012).
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Foto: Deborah Monnerat
Haroldo Campos (Haroldo Eurico Browne de Campos) | São Paulo, 1929 – 2003
Autor de Esta Cidade
Poeta e tradutor brasileiro. Estudou no Colégio São Bento e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo nos anos 1940. Lançou seu primeiro livro em 1949, O auto do Possesso, quando participava do Clube da Poesia, ao lado de Décio Pignatari. Em 1952, Haroldo, seu irmão Augusto e Décio rompem com o clube por divergirem do conservadorismo predominante e fundam o grupo Noigandres e a revista de mesmo nome. Em 1956 os três lançam as bases do movimento concretista. Doutorou-se pela FFLCH-USP sob orientação de Antonio Candido, foi professor na PUC-SP e na Universidade de Austin (Texas, EUA). Dirigiu a coleção Signos da Editora Perspectiva e foi tradutor de obras clássicas, como a Ilíada de Homero, do original para o português. Ganhador de cinco prêmios Jabuti e do Prêmio Octavio Paz.
Criolo (Kleber Cavalcante Gomes) | São Paulo, 1975
Autor de Não existe amor em SP
Cantor, compositor, rapper, MC e ator. Começou a participar de disputas de rap em 1989. Em 2004, passou a publicar gravações caseiras de suas músicas em sua página no Myspace. Em 2006, lançou seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Ainda Há Tempo e fundou a Rinha dos MC's, existente até hoje. Em 2009, gravou um DVD ao vivo chamado Criolo Doido Live in SP. O reconhecimento junto ao grande público aconteceu com o lançamento do segundo álbum, Nó na orelha (2011), disponibilizado gratuitamente através da internet. No disco o cantor diversificou o repertório e incluiu outros ritmos, como samba-rock, afrobeat e reggae. O disco teve excelente recepção pela crítica, sendo indicado no Video Music Brasil 2011 da MTV nas categorias Videoclipe do Ano, com "Subirusdoistiozin", Artista do Ano e foi vencedor nas categorias Álbum do Ano, Música do Ano com "Não Existe Amor em SP" e como Banda ou Artista Revelação. Em 2014, lançou terceiro álbum, Convoque seu Buda. Em 2015, ao lado da cantora Ivete Sangalo, lançou Viva Tim Maia e em 2017 lançou um trabalho dedicado ao samba, Espiral de Ilusão.
Autora/autor anônima/o da crônica Coisas Excêntricas
Em 1933, Paulo Cursino de Moura lançou uma coletânea de suas crônicas, originalmente publicadas no S. Paulo Jornal (extinto em meio ao clima de instabilidade política de 1930), sob o nome de São Paulo de outrora – evocações da metrópole. Escritas de maneira despretensiosa, elas despertavam a curiosidade dos leitores paulistanos, interessados em conhecer a origem dos nomes de alguns famosos logradouros da cidade. Em um dos capítulos, dedicado à Rua Formosa, ele relatava de maneira bem-humorada algumas incongruências da metrópole, o que ele chamou de “cousas excêntricas”. Em outra passagem, ele tentava fazer uma genealogia do nome “Viaduto do Chá” (por que chá, se a infusão que melhor representa São Paulo é o café?), e contava como aquela construção havia facilitado a passagem numa região bastante íngreme da cidade – para os vivos e para os que queriam alcançar o além-vida, como denunciava o bilhete encontrado no bolso de um suicida. Não se sabe ao certo se a expressão “São Paulo é o paraíso das coisas excêntricas...” é anônima e foi incorporada por Moura, ou se foi o contrário. Em nota à segunda edição do livro (1943), o autor afirmava que, desde sua publicação, suas crônicas vinham sendo utilizadas em vários programas de rádio, e mesmo reproduzidos em outros livros que tinham a Paulicéia como tema, o que sugere que o texto que corre por aí como anônimo seja uma adaptação desses dois fragmentos (as crônicas sobre a Rua Formosa e o Viaduto do Chá). De todo modo, essa parece ser uma imagem bastante compartilhada, ainda hoje, pelos habitantes de São Paulo, o que explica sua atualidade.
Premê (Premeditando do Breque) | São Paulo, 1976
Autores de São Paulo, São Paulo
Anteriormente conhecido como Premeditando o Breque, é um grupo musical paulistano criado em setembro de 1976 por estudantes da USP: Marcelo (Antônio Marcelo Galbetti), Claus (Claus Erik Petersen), Igor (Igor Lintz Maués), Mário Manga (Mário Augusto Aydar) e Wandy (Wanderley Doratiotto). Destacou-se desde o início tanto pelas letras irreverentes e bem-humoradas quanto pela qualidade musical, baseada em arranjos sofisticados, fundindo MPB, choro, rock e até mesmo música erudita. Já em 1979, o samba-de-breque “Brigando na Lua” foi premiado com o segundo lugar no 1º Festival Universitário de Música Popular Brasileira (TV Cultura). No ano seguinte, o grupo começaria a se celebrizar em apresentações no Teatro Lira Paulistana – reduto da música independente paulista de então –, ao lado de nomes igualmente emergentes da cena musical paulista como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Grupo Rumo. Em 1981, o grupo lançou seu primeiro disco, Premeditando o Breque, alcançando notoriedade. O maior sucesso viria em 1983, com o LP Quase Lindo e a canção “São Paulo, São Paulo”, uma divertida referência a “New York, New York”. A canção foi incluída na trilha sonora da novela Vereda Tropical. Outra canção que ficou conhecida do grupo foi “Lua de Mel”, que faz referência a Cubatão, numa época em que esta era considerada uma das mais cidades poluídas do mundo. No ano de 1991, o Premê lançou o álbum Alegria dos Homens e seis anos depois, o show Premê Vivo. Em 2000, um novo show batizado de Brasil 500 anos reavivou a atenção do público pelo grupo. Atualmente, o Premê continua na ativa, mas com shows esporádicos. Numa votação popular realizada em São Paulo no ano de 2003 para eleger a música-símbolo da cidade, a canção “São Paulo, São Paulo” ficou em 2º lugar, atrás de “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa.
Kleber Albuquerque | Santo André, 1960
Autor de Xi, de Pirituba a Santo André
Compositor, cantor e violonista. É autor de canções gravadas por artistas como Fábio Jr., Zeca Baleiro, Ceumar, Vanuza, Eliana Printes e Márcia Castro, entre outros. Ganhador do prêmio APCA por suas composições para teatro. Com seis discos gravados e prestes a lançar Os antidepressivos vão parar de funcionar, seu sétimo trabalho, Kleber atualmente trabalha também em outros dois projetos paralelos: os espetáculos Contraveneno, em parceria com o cantor brasiliense Rubi (projeto que recebeu a indicação para a edição 2018 do PMB), e Canções Caeiras, com as cantoras e compositoras Daniela Alcarpe, Elaine Guimarães e Márcia Matos, com poemas musicados de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa).
Adoniran Barbosa (João Rubinato) e Jorge Costa | Valinhos, 1910 – São Paulo, 1982
Autor de Receita de Pizza
Compositor, cantor, comediante e ator. Filho de imigrantes italianos da região do Vêneto, mudou-se com a família para Jundiaí aos oito anos, onde trabalhava com o pai no carregamento dos vagões da São Paulo Railway. Foi também entregador de marmitas e varredor numa fábrica de tecidos. Em 1924, a família migrou para Santo André, na região metropolitana de São Paulo, onde João exerceu várias funções: tecelão, encanador, pintor, vendedor ambulante e garçom. Admirador de sambistas do Rio, como Sinhô, Noel Rosa e Luís Barbosa, sonhava com o estrelato no rádio. Nos anos 1930, passou a frequentar programas de calouros na Rádio Cruzeiro do Sul, mas fracassou nas primeiras tentativas, chegando a ouvir do produtor Jorge Amaral que sua voz era boa para acompanhar defunto. Venceria o produtor pelo cansaço, começando a carreira na emissora. Pensando que seu nome não o favorecia como sambista, adotou o pseudônimo de Adoniran Barbosa – sendo o prenome emprestado de um amigo, funcionário dos correios, e o sobrenome uma homenagem a Luís Barbosa, que se destacava por suas interpretações de samba de breque e por introduzir o chapéu de palha como instrumento de percussão. Em 1935, quando contratado pela Rádio São Paulo, ficou em primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas promovido pela prefeitura, com a marcha “Dona Boa”, parceria com J. Aimberê. Apesar de sua profícua atividade como compositor e do desejo de ser reconhecido como sambista, foi como comediante que ele se destacou nos anos 1940, quando ingressou na Rádio Record. Da parceria com o produtor e escritor Osvaldo Moles, Adoniran deu vida a personagens emblemáticos do rádio paulistano, como Zé Cunversa, Jean Rubinet, Moisés Rabinovic, Richard Morris e Perna Fina. O mais conhecido de todos foi Charutinho, malandro que protagonizava a História das Malocas. Interpretou também personagens no cinema, em filmes como O Cangaceiro (1953), e na televisão. Somente em meados da década de 1950, com a gravação do samba “Saudosa Maloca” pelo conjunto Demônios da Garoa, que Adoniran se tornaria consagrado como compositor. Na década seguinte, o grupo gravou “Trem das Onze”, que fez tanto sucesso a ponto de vencer o concurso de carnaval do Rio de Janeiro de 1965. A partir de então, Adoniran passou a ser reconhecido como o mais legítimo representante do samba paulista – embora este seja um título bastante controverso. Seus sambas se caracterizariam por fazer uma espécie de crônica da vida na cidade de São Paulo, empregando uma linguagem coloquial – “um jeito certo de falar errado”, como ele costumava dizer. Retratavam tipos urbanos, em suas agruras e alegrias, a exclusão social e a festa. No espetáculo Cantos de São Paulo da Unifesp, homenageamos este querido compositor com uma obra menos conhecida, “Receita de Pizza” (parceria com Jorge Costa), que foi registrada na voz do cantor Mauricio Pereira na coletânea póstuma Se assoprar posso acender de novo (2017).
Geraldo Filme (Geraldo Filme de Sousa) | São João da Boa Vista, 1928 – São Paulo, 1995
Autor de Silêncio no Bixiga
Compositor, cantor, sambista e militante. Seus pais foram de uma última geração nascida na escravidão. Quando criança entregava marmitas feitas pela mãe, dona de pensão na Barra Funda, ficando conhecido como "Negrinho das Marmitas”. Dado à sua ligação com o bairro, mais tarde se tornou o “Geraldão da Barra Funda”. Cresceu num ambiente bastante musical: seu pai, Sebastião, tocava violino, e a mãe, Augusta, era uma das organizadoras da romaria nas festas do Bom Jesus de Pirapora, ocasião em que se tocava samba rural, samba de lenço, partido-alto, música caipira e jongo. Frequentava também os cordões carnavalescos e as rodas de samba, improvisadas por carregadores e engraxates no extinto Largo da Banana. Aos dez anos, compôs seu primeiro samba, “Eu vou mostrar”, cujos versos diziam “eu vou mostrar que o povo paulista também sabe sambar”, em resposta àqueles que afirmavam que só no Rio de Janeiro se fazia samba. Ao longo de sua carreira, contestou fortemente a hegemonia do samba carioca, valorizando as tradições negras na capital paulista, como a tiririca (variante da capoeira). Além disso, seria um crítico do racismo e da lógica progressista da cidade de São Paulo, que pouco a pouco eliminava os espaços ligados ao samba e à cultura negra. Foi um dos responsáveis pela organização das escolas de samba em São Paulo, estando particularmente ligado à história da Unidos do Peruche e da Vai-Vai. No samba “Silêncio no Bexiga”, o compositor homenageia Pato N’água, apitador do cordão Vai-Vai, encontrado morto numa lagoa em Suzano, em 1969. Numa crônica publicada pela Folha de S. Paulo, em 13 de fevereiro de 1977, Plínio Marcos narrou o episódio: “Pato N’água foi levar uma cabrochinha lá pras bandas de Suzano. Amanheceu boiando numa lagoa, comido de peixe e de bala. Dizem que foi a primeira vítima do Esquadrão da Morte. Ninguém sabe direito. Defunto não fala. O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato N’água. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga”.
Arnaldo Antunes (Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho) | São Paulo, 1960
Autor de Volte para o seu lar
Músico, poeta, compositor e artista visual. Ingressou em 1978 no curso de letras da FFLCH-USP, mas abandonou a faculdade devido ao sucesso do grupo Titãs, formado junto com amigos do colégio. Permaneceu na banda até 1992 e continua com parcerias musicais com seus ex-integrantes. Em paralelo, lançou uma carreira literária iniciada com Ou e (1983) e é ganhador do prêmio Jabuti de poesia por As Coisas (1992). Em 2002 formou junto com Marisa Monte e Carlinhos Brown o trio Tribalistas, ganhador de Grammy Latino. Em 2008 fundou a banda Pequeno Cidadão, junto com Edgard Scandurra, filhos e sobrinhos, em um projeto infantil que durou até 2012. É autor e intérprete da música "Lavar as Mãos" do programa educativo Castelo Rá-Tim-Bum. Possui mais de quinze álbuns solos lançados, entre estúdio e ao vivo, seis com os Titãs, dois com os Tribalistas e mais de 20 livros publicados, entre prosa e poesia. Seu último livro, Família (2015) foi escrito em coautoria com seu amigo de banda e também escritor Tony Bellotto.
Celso Viáfora | São Paulo, 1959
Autor de Que nem a gente
Cantor, compositor e arranjador. Na década de 1970, participou de festivais e passou a se apresentar em casas noturnas do Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa época, foi contemplado com o prêmio de Melhor Arranjo no Festival Internacional de Viña del Mar, no Chile, com a música “Grão da terra”. Entre seus trabalhos autorais, estão os álbuns Trocando figura (1986), Célso Viáfora (1991), Paixão candeeira (1996) e Cara do Brasil (1999), que contém parcerias com Guinga e Vicente Barreto. Em 2001, lançou o CD Basta um tambor bater, com arranjos de Rildo Horta em algumas faixas e a participação de Ivan Lins e do grupo MPB-4, na faixa “Diplomação” (parceria com Ivan Lins), e Beth Carvalho, na música “Chora”. Suas composições foram gravadas por artistas como Fafá de Belém, Ney Matogrosso, Vânia Bastos, Ivan Lins, Eduardo Gudin e Jane Duboc. Em 2004, apresentou o álbum Palavra! no Teatro Crowne Plaza, com a participação do Barracão Sonoro, grupo formado por 16 crianças com idade entre 6 e 16 anos da comunidade de Paraisópolis. É comentarista dos desfiles de São Paulo, na TV Globo.
Rita Lee (Rita Lee Jones) | São Paulo, 1947
Autora de Lá vou eu
Cantora, compositora, apresentadora, escritora e ativista. Conhecida como a "Rainha do Rock Brasileiro", alcançou a impressionante marca de 55 milhões de discos vendidos. Construiu uma carreira que começou com o rock, mas, ao longo dos anos, flertou com diversos gêneros, criando um hibridismo pioneiro, integrando influências nacionais e internacionais. Ex-integrante do grupo Os Mutantes (1968-1972) e do Tutti Frutti (1973-1978). Suas canções, em geral regadas com uma ironia ácida ou com uma reivindicação da independência feminina, tornaram-se onipresentes nas paradas de sucesso, como "Alô Alô Marciano" – sucesso na voz de Elis Regina –, "Ovelha Negra", "Mania de Você", "Lança Perfume", "Agora Só Falta Você", "Baila Comigo", "Pagu", "Obrigado Não", "Erva Venenosa", "Amor e Sexo", entre outras. O álbum Fruto Proibido (1975) é comumente visto como um marco fundamental na história do rock brasileiro, considerado por alguns como sua obra-prima. Em 1976, Lee começou um relacionamento amoroso com o guitarrista Roberto de Carvalho e desde então ele tem sido o parceiro da maioria de suas canções e a acompanhou em todas suas apresentações ao vivo. Tiveram três filhos, entre eles Beto Lee, também guitarrista, que acompanha os pais nos shows. Rita Lee é vegetariana e defensora dos direitos dos animais.
Assucena Assucena, As Bahias e a Cozinha Mineira | São Paulo, 2012
Autora de Dama da Night
Grupo musical brasileiro, formado por Raquel Virgínia, Assucena Assucena, Rafael Acerbi, Rob Ashtoffen e Carlos Eduardo Samuel estudantes da USP. A banda começou a se apresentar em festas universitárias e chamou atenção do público. Possui influências do tropicalismo e declaradamente de Gal Costa e também dos autores do Clube da Esquina. Raquel e Assucena são duas cantoras trans, mas o segredo da banda está na militância não ser maior do que a potência musical do grupo, que tem canções catárticas que revisitam a diversidade musical do país e a levam para frente. Tem forró e axé, tem samba e MPB e, sem dúvida, tem provocação em letras que tocam no âmago das questões. O primeiro álbum da banda, Mulher, foi gravado durante três anos e lançado oficialmente em 2015 com boa recepção da crítica. Em 2016 participaram do projeto Salada das Frutas, junto com outra cantora trans paulistana, Liniker, a rapper paulista Tássia Reis e o rapper gay paulistano Rico Dalasam, que marcou um encontro de atitudes, sonoridade, posicionamentos políticos, contextos sociais e celebração do orgulho e da identidade de cada indivíduo. Em 2017 lançaram seu segundo álbum, Bixa, novamente com boa recepção da crítica e reconhecimento do público. Atualmente as cantoras são apresentadoras do programa ABZ da Música no canal de TV a cabo Music Box Brazil.
Itamar Assumpção (Francisco José Itamar de Assumpção) | Tietê, 1949 – São Paulo, 2003
Co-autor de Milágrimas
Compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical brasileiro. Destacou-se na cena independente e alternativa de São Paulo. Passou parte da adolescência no Paraná e chegou a cursar até o segundo ano de Contabilidade, mas abandonou a faculdade para fazer teatro e shows em Londrina. Aprendeu a tocar violão sozinho e, ouvindo Jimi Hendrix e arranjos de baixo e bateria, apaixonou-se pelo baixo. Mudou-se para São Paulo em 1973 para se dedicar à música. Tornou-se um dos grandes nomes e contribuidores da cena alternativa que dominou a cidade nos anos 70 - 80, movimento que se convencionou chamar de Vanguarda Paulista. Esse movimento reuniu artistas que decidiram romper com o controle das gravadoras sobre a produção musical e o lançamento de novos talentos. Seus representantes produziam e lançavam trabalhos que, longe das fórmulas de fazer hits das grandes gravadoras, estavam preocupados com a forma, o conteúdo e a mensagem. Criavam suas próprias microempresas e gerenciavam a si mesmos. Itamar Assumpção era nome frequente na lista de shows do Teatro Lira Paulistana em Pinheiros, palco que foi denominador comum a todos os membros da Vanguarda Paulista. Itamar, ao lado de Arrigo Barnabé, Grupo Rumo (Ná Ozzetti, Paulo e Luiz Tatit), Premê (Premeditando o Breque), marcaram suas obras basicamente por não terem tido interferência dos burocratas das gravadoras, o que fez com que suas obras fossem tidas por tais gerentes e críticos aliados das gravadoras como "difícil". Esses artistas, pela rebeldia, ousadia e audácia ganharam a alcunha de "malditos". Itamar detestava tal rótulo e contestava. A polêmica era outra área na qual dava-se bem, talentoso que era com as palavras não só no âmbito poético. O duelo verbal lhe apetecia como forma honesta de defender a integridade do artista. Seus primeiros LPs foram Beleléu, Leléu, Eu de 1980, lançado pelo selo Lira Paulistana; As Próprias Custas S.A. de 1983 e Sampa Midnight, de 1986, todos com a participação da Banda Isca de Polícia. Seu único LP produzido por uma grande gravadora é da Continental, intitulado Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava…, de 1988. Em 1994 lançou a série Bicho de Sete Cabeças (três LPs também na forma de dois CDs), acompanhado pela banda Orquídeas do Brasil. Em 1995 lançou um CD com músicas de Ataulfo Alves, novamente com a Isca de Polícia, que foi premiado como melhor do ano pela APCA. Em 1998 lançou o álbum Pretobrás, concebido como o primeiro de uma trilogia, contudo veio a falecer em 2003, após lutar quatro anos contra um câncer no intestino. Em 2004, foi lançado o álbum Vasconcelos e Assumpção – isso vai dar repercussão, com sete músicas gravadas em parceria com Naná Vasconcelos pouco antes de sua morte. Em 2010 o Selo Sesc lançou o Box Caixa Preta, com a discografia completa mais os álbuns de inéditas Pretobrás II e III, com a participação de diversos artistas. Apesar de grande intérprete, muitas de suas composições foram regravadas por outros artistas como Cássia Eller, Ney Matogrosso, Tom Zé e Rita Lee. Em 2012, Zélia Duncan lançou o álbum Tudo Esclarecido, só com composições de Itamar. É pai da cantora Anelis Assumpção.
Alice Ruiz (Alice Ruiz Scherone) | Curitiba, 1946
Co-autora de Milágrimas
Poeta, compositora e tradutora. Publicou seus primeiros poemas em jornais e revistas culturais, em 1962. No final da mesma década, participou do grupo de vanguarda Áporo e começou seus estudos sobre o haicai, que seria uma marca em sua obra poética. Em 1971, como integrante do grupo A Chave, iniciou a carreira de letrista de música popular. Nos anos 80, publicou seu primeiro livro autoral, Navalhanaliga (1980), e seu primeiro trabalho de tradução de haicais (1981). Em parceria com o poeta Paulo Leminski, com quem foi casada, lançou Hai Tropikai (1985). Participou das mostras Arte Pau-Brasil e Transcriar - Poemas em Vídeo Texto, em São Paulo. Mudou-se para a cidade em 1989, ano em que recebeu o prêmio Jabuti pelo livro Vice Versos. Com a filha Áurea Leminski, organizou O Ex-Estranho (1994), obra póstuma de Paulo Leminski. Além de Itamar Assumpção, teve parcerias em composições com Arnaldo Antunes, Ná Ozzetti, Marcelo Janeci e Alzira Espíndola, com quem lançou, em 2005, o CD Paralelas.
Edi Rock e Mano Brown, Racionais MC's | São Paulo, 1988
Negro Drama
Grupo brasileiro fundado por Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e pelo DJ KL Jay. Mais influente grupo de rap nacional, suas canções denunciam a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras. Temas como a brutalidade da polícia, do crime organizado e do Estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. O nome do grupo foi inspirado no disco Racional de Tim Maia. Possuem quatro álbuns de estúdios lançados, sete videografias, dois ao vivo e alguns singles. Ganhadores de diversos prêmios na MTV Brasil, tiveram o disco Sobrevivendo no Inferno (1997) selecionado como leitura obrigatória entre a lista de obras para o vestibular da UNICAMP.